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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Psicomotricidade e Investigação


Psicomotricidade e Investigação - Vitor da Fonseca, capitulo 1
MODELOS\TEÓRICOS
Nesse capitulo o autor descreve a origem dos modelos teóricos em psicomotricidade com uma história de mais ou menos 100 anos e revela o passado filogenético da mesma que remonta às origens da antropogénese (FONSECA, 1989, 1999).
O autor cita DUPRE (1909, 1925), e a JANET (1928 que inauguraram historicamente o uso do termo “psicomotricidade”, mas foi TISSIÉ (1894, 1899, 1901) o primeiro a estudar as conexões entre o movimento e o pensamento (FONSECA, 1976, 1998). WALLON (1925, 1932, 1934, 1956, 1969) foi o autor de referência primordial que deu ao termo psicomotricidade a expressão teórica mais sólida e coerente, mantendo até hoje atualizadas muitas das suas abordagens conteudísticas (CAMUS, 1998).
O autor revela também as contribuições de diferentes autores, tais como:
CONTRIBUTOS EUROPEUS:
·   PIAGET (1947,1956,1962, 1976), com enfoque biológico e sensório-motor estruturado e construtivista,
·       AJURIAGUERRA (1952, 1959, 1970, 1974), com enfoque neurofuncional e neuropsiquiátrico prodigioso.
CONTRIBUTOS NORTE-AMERICANOS:
·       KEPHART (1967, 1971), FROSTIG (1964, 1970), GETMAN (1965), CRATIY (1973, 1994), BARSH (1965) e AYRES (1972, 1979), com enfoque behaviorista.
CONTRIBUTOS RUSSOS:
·  BERNSTEIN (1967), ZAPOROZHETS (1960), ZAPOROZHETS & ELKONINE (1971), SECHENOV (1965), VYGOTSKY (1979, 1986) com enfoque na psicofisiologia e neuropsicologia e essencialmente LURIA (1965, 1974, 1975), sem os quais o aprofundamento futuro da teorização da psicomotricidade ficará certamente muito limitado em nossa opinião.
OUTROS AUTORES CITADOS:
·       M. DE BIRAN (1932), HENRY (1965) na filosofia; na fenomenologia, M. PONTY (1945, 1963); na psicanálise, FREUD (1930, 1962, 1976); na psiquiatria, SCHILDER (1963); na psicofisiologia, BUYTENDDIJK (1957), MIRA Y LOPEZ (1951), ECCLES (1989), PAILLARD (1961); na praxiologia, LlEPMANN (1908); na neuropsicologia, OUIRÓS & SCHRAGER (1978); na psicologia cognitiva, GARDNER (1985).
NA TEORIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DOS DESPORTOS:
·       LE BOULCH (1967,1972), PARLEBAS (1970), MÉRAM (1970), com paradigmas emergentes inovadores, porém com significações conteudísticas diferentes e com pouco poder de integração e de síntese teórica no âmbito da psicomotricidade (FAUCHÉ, 1993), com enfoque no modelo fisicalista de ginástica sueca.

CONTRIBUTOS DE PAÍSES FRANCÓFONOS E MAIS TARDE NOS LATINOS:
·     PETAT (1942), e de WALTHER (1948), se aproximando mais dos modelos paramédicos, reforçando a presença dos modelos teóricos clássicos sobre o movimento humano, como os da ginástica corretiva, da cinesioterapia, da reeducação física, e essencialmente, da fisioterapia.
CONTRIBUTOS PSICOMOTORES COM ENFOQUE NA SAÚDE MENTAL:
Da rivalidade entre uma concepção do movimento higienista e físico, de inspiração anatomofisiológica e de rendimento motor, e de
·   VAYER (1961,1971), LAPIERRE (1968), LAPIERRE & AUCOUTORIER (1973), de SOUBIRAM & JOLlVET (1967), etc., com uma concepção mais relacional, afetiva, lúdica e emocional que acaba por definir o estado da arte dos modelos teóricos franceses da psicomotricidade.
A Teoria da Psicomotricidade embora com origem multifacetada, envolvendo diversas dimensões conceptuais sobre a motricidade e a corporalidade, ou os seus paradigmas e sub-paradigmas, além das contribuições citadas acima citadas, acrescenta-se hoje mais recentemente as contribuições das neurociências (DAMÁSIO,1995, 1999). A civilização humana é tributária do corpo e da motricidade (FONSECA, 1999). Porém, apesar desses estudos a confusão motricidade e psicomotricidade subsiste e a diferenciação teórica e mesmo investigativa da ergonomia, da arte ou da reabilitação (SÉRGIO, 1994). A psicomotricidade precisa maior integração de conhecimentos para que possa ganhar estatuto científico.
DEFINIÇÃO E ELEGIBILIDADE:
A definição de psicomotricidade ainda é imprecisa e multidimensional, carregada duma taxonomia e de uma tipologia difusas, com inúmeros atributos, fatores e indícios críticos incertos e sem consenso diagnóstico, decorrente de conceitos complexos como os de comorbilidade, de risco, de vulnerabilidade, de disfunção, de desordem, de dificuldades, de transtorno, de perturbação, etc., e de interdependência ecossistêmica. Todos reclamam a exclusividade de seu conhecimento, mas o objeto de estudo da psicomotricidade, por ser complexo, não pode caber num conhecimento centrado ou apócrifo.
Como paradigma principal, a psicomotricidade estuda as relações filogenéticas, ontogenéticas e disontogenéticas complexas entre o corpo, o cérebro e os ecossistemas, equacionadas nas seguintes três dimensões:
·       multicomponência- componentes tônicas, posturais, somatognósicas, práxicas
·       multiexperiência- do embrião ao recém-nascido, do bebê à criança, da criança ao adolescente, do adolescente ao adulto, do adulto ao idoso, integrando paralelamente os sub-paradigmas do ser humano inexperiente, do ser humano imaturo, desmaturo e maturo em termos de desenvolvimento e aprendizagem;
·       multicontextual-ou seja, dependente dos vários ecossistemas (endo, micro, meso, exo e macrossistemas) onde o indivíduo se encontra inserido sócio culturalmente.

Resumindo, o autor descreve a Psicomotricidade como objeto de estudo que subtende as relações entre a organização neurocerebral, a organização cognitiva e a organização expressiva da ação, isto é, compreende a ação (aqui entendida como praxias, motricidade ou como movimento intencional), como um todo, sendo impossível de imaginar sua execução (output separada da sua planificação (input- integração-elaboração). A ação ou a motricidade humana só pode ser concebida em psicomotricidade quando a componente motora se inter-relaciona dinamicamente com a componente emocional e com a componente cognitiva, na medida em que é essa interação neuropsicomotora que lhe fornece a característica intrínseca e única da sua totalidade adaptativa e evolutiva. (Vitor da Fonseca)

DIAGNÓSTICO EM PSICOMOTRICIDADE:
A identificação de síndromes ou transtornos psicomotores, inclui vários subtipos de desorganização do movimento, noção cientificamente análoga à de dispraxia definida por AJURIAGUERRA (1970), como "perturbação global da personalidade, donde podem emergir problemas instrumentais ligados à afetividade, na medida em que possuem um caráter expressivo, independentemente de não surgirem de neuropatias ou miopatias". As dispraxias compreendem um problema de planificação motora e de regulação e controle motor, isto é, trata-se de uma disfunção cortical superior podendo arrastar disfunções subcorticais e vestibulares, não envolvendo os motoneurônios inferiores, nem a unidade muscular ou a função muscular.
 A dispraxia, de acordo com vários autores, AJURIAGUERRA& SOUBIRAN (1959), GUBAY (1975), AYRES (1979), MILLER (1986), CRATTY (1994), envolve para além de vários subtipos, vários graus de severidade e vários níveis etários (no sentido da cronogênese walloniana).
É importante para determinar um transtorno psicomotor selecionar uma posição taxonômica com marcadores descritivos, substantivos e eliológicos e consequentemente poder avaliar todas as intervenientes diferentes, conseguindo assim um diagnóstico baseado num modelo teórico sistêmico como o Sistema Psicomotor Humano proposto por nós (FONSECA, 1988).

SISTEMA PSICOMOTOR HUMANO
Unidade

Sistemas
Disfunções
 Programação
       Frontal 
Córtex motor
Cognitivo
práxico
Desplanificação
Dismelodia
dispraxia
     Temporal
Occipital
Parietal
Límbico
caloso
Associativo
Imagético
perceptivo
Disgnosias
Dissomalogno.
Despersonaliz.
ambidestria
    Atenção
Diencéfalo
Mesencéfalo
Metencéfalo
Cerebelo
Tr. cerebral
medula

Proprioceptivo
Postural
Vestibular
reticular
Desatenção
Insegurança
Sisdiadococin
Sincinesia
Paratonia
Distonia
Dissinergia

O diagnóstico em psicomotricidade (FONSECA, 1992, 1999,2000) envolve uma avaliação neurológica tradicional. Além de uma interação mais investida, relacional e intencional entre o diagnosticador (observador ou avaliador) e o sujeito observado (entendido como "cliente" e não como paciente), pois valoriza de forma transcendente e significativa as estratégias de mediatização que visam provocar, no mesmo, mudanças relacionais e substanciais na sua prestação psicomotora e não apenas caracterizar um perfil psicomotor fixo, fechado ou imutável, ou seja, pretende atuar e mobilizar a sua "zona de desenvolvimento proximal" (VYGOTSKY, 1986) o papel mediatizador do observador (FONSECA, 1992, 1999).
Em psicomotricidade, o diagnóstico é parte integrante e dialética da intervenção subsequente, estabelecendo com ela um diálogo permanente de aprofundamento e de compreensão do problema ou das perturbações psicomotoras do indivíduo, procurando a busca intencional e significativa da sua modificabilidade psicomotora, por ser simultaneamente centrada não só nos produtos finais da motricidade, como nos processos que a integram, elaboram, regulam e controlam, fazendo atuar em convergência e em sincronização neurofuncional processos emocionais e cognitivos interiorizados.
Em princípio, o diagnóstico psicomotor deve ter como preocupação nuclear a colocação do sujeito observado no envolvimento pedagógico-terapêutico mais apropriado possível. O principal objetivo da avaliação psicomotora é criar as condições que permitem fazer emergir, facilitar e enriquecer o potencial de aprendizagem e de adaptação do indivíduo. A ideia subjacente ao diagnóstico psicomotor é ajudar os indivíduos, e não meramente estigmatizá-Ios. É ainda de maior relevância uma preocupação ética quando estão sendo observados indivíduos que revelam déficits ou vulnerabilidades
Após o diagnostico é importante imediatamente dar continuidade a construção e criação de programas de intervenção para enriquecimento psicomotor focados na otimização do potencial de aprendizagem. É com base no perfil psicomotor que se deve estruturar o plano prescritivo individualizado (terapêutico, remediativo ou reeducativo), tendo aí atenção rigorosa e sutil para o estudo da significação psiconeurológica dos sinais disfuncionais captados na observação (FONSECA,1998)

INTERVENÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE:
Em avaliação contínua:
1.     Identificação
2.     Hipóteses
3.     Formulação de objetivos
4.     PRETI
5.     Sucesso

É necessário que a intervenção psicomotora se construa com as bases das metodologias cientificas, abrindo-se a investigação interventiva. Essa intervenção pode acontecer em sala de aula regulares, em salas de apoio especializado, em salas de consulta ou suas adaptações
Com base na seleção das situações-problema e com a aplicação de estratégias adequadas de mediatização (FEUERSTEIN, 1975; FONSECA, 1999), a intervenção psicomotora, seja ela profilática, preventiva, educativa, reeducativa, remediativa ou terapêutica, pode efetivamente promover no indivíduo as interações interiorizadas entre as funções de planificação e de execução motora. obtendo assim a sua modificabilidade psicomotora.
Não basta, portanto, o movimento pelo movimento, a ação pela ação, o jogo pelo jogo, pois, nesse caso as 'crianças hiperativas e com déficit de atenção seriam os alunos mais eficazes da escola e as crianças mais adaptadas às situações da vida quotidiana, o que não é verdade. (BARKLEY, 1990). "
 Para se atingirem esses objetivos, o psicomotricista tem de ser um mediatizador de excelência, intervindo simultaneamente nas funções emocionais e afetiva dos clientes, utilizando para o efeito estratégias de intencionalidade, de reciprocidade, de significação, de transferência e de metacognição.

AGENDA PARA O FUTURO:
Parece ser necessário criar um consenso de que a psicomotricidade é uma ciência e que para exerce-la é urgente criar uma base mais coerente e com foco epistemológico nos paradigmas de estudo. Assim, estarão sendo formados e treinados, de modo mais dinâmico e atualizado, os atuais e os futuros psicomotricistas. O futuro da psicomotricidade poderá ser alcançado se se romperem com fronteiras conceptuais, mobilizando mais e melhor, os vários campos da matriz teórica e prática.

CRÍTICA:
Considerei o artigo fundamental para a compreensão da historia da psicomotricidade e sua relevância. Como sou psicopedagoga, tracei um paralelo entre esses estudos que revolucionaram o conhecimento e provocaram um choque entre as ciências.
Na minha opinião, precisamos ver a criança como um todo, numa base global. Cada um dos aspectos possui a mesma relevância. Os pensamentos, o corpo, as emoções. Estes aspectos estão inter-relacionados e se confluem mutuamente. O indivíduo precisa ser considerado um ser único, capaz de se tornar ciente de seus próprios recursos; se desenvolver, alcançar a autorrealização e descobrir todo o seu múltiplo potencial.
 Porém, é importante compreendermos que ao decidirmos trabalhar com crianças que estão se desenvolvendo, precisamos de profissionais bem treinados e capacitados em contínua formação. É necessário ter consciência de como a psicomotricidade, a psicopedagogia e outras capacitações como a neurociências são importantes em nossas escolas e/ou espaços de atendimento. O profissional precisa dedicar anos de esforço e estudo para que seu trabalho seja reconhecidamente profissional e bem-sucedido. É uma tarefa que vale a pena e que compensará no futuro.

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