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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Metacognição


“Não tenho ensinamentos a transmitir. Apenas aponto algo, indico algo na realidade, algo não visto ou escassamente avistado. Tomo quem me ouve pela mão e o encaminho à janela. Escancaro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas lidero um diálogo” (Buber).

Cito a frase de Martim Buber, pois acredito que numa relação ensinante /aprendente, não somos detentores do saber e sim, lideramos o diálogo para que ocorra a aprendizagem. Precisamos sempre aprender e aprender a aprender, incentivando esse movimento  pendular e a reaprender continuamente.
A aprendizagem  se constitui em uma mudança de comportamento resultante da experiência. E uma resposta modificada, estável e durável, interiorizada e consolidada, no próprio cérebro do individuo.
Cada vez mais e possível encontrar fatos que confirmam as relações entre o cérebro e a aprendizagem. A aprendizagem envolve um processamento de informação, jogando com processos sensoriais (recepção), neurológicos (decodificação, tradução, retenção, codificação) e psicológicos (percepção, imagem, simbolização e conceituação).
A aprendizagem compreende uma relação integrada entre o individuo e o seu desenvolvimento, da qual resulta uma plasticidade adaptativa de comportamento ou conduta. Essa modificação e uma função do Sistema Nervoso Central. Porem, existem outros componentes envolvidos no processo tais como :o ambiente, o aprendiz, o professor, as emoções, etc. E também existe uma forte ligação entre aprendizagem e memoria que pode ser descrita assim: quando chega ao Sistema Nervoso Central uma informação conhecida , esta gera uma lembrança que nada mais e que uma memoria.  Porem, quando chega ao Sistema Nervoso Central uma informação totalmente nova e ela nada evoca, mas produz uma mudança na estrutura e ou na função do Sistema Nervoso Central - isto e aprendizado do ponto de vista neurobiológico.
E importante salientar que ao mesmo tempo em que há o reconhecimento que fatores genéticos influenciam a aprendizagem, os estudos mostram que não há um gene da aprendizagem que explique dificuldades apresentadas nessa área.
Considerando a aprendizagem como uma mudança interior e em busca de integrar os conceitos básicos sobre aprendizagem, cognição e memoria, reconhecemos a importância da definição de  aprendizagem por Alicia Fernadez como "um molde, ou esquema de operar que vai sendo utilizado nas diferentes situações de aprendizagem. É a forma como cada sujeito desvela o oculto, com o objeto a conhecer.
Em cada um de nós, podemos observar uma particular ´modalidade de aprendizagem´, quer dizer, uma maneira pessoal para acercar-se ao objeto de conhecimento e para conformar seu saber. Tal modalidade se constrói desde o nascimento e, através dela, nos enfrentamos com a angústia inerente ao conhecer-desconhecer" 2
Trata-se, portanto, de uma tensão entre o que se impõe como repetição/permanência de um modo anterior de relacionar-se e o que precisa mudar nesse modo de relacionar-se com o objeto de conhecimento, consigo mesmo como autor e com o outro ensinante.
A dimensão corporal comparece como o lugar onde as aprendizagens são registradas. Esse registro vai se entretecendo no vínculo necessariamente assimétrico entre aquele que deseja que o outro aprenda e o ser aprendente, em cuja formação inicial vão se inscrevendo os desejos de autoria e de autonomia. Curioso paradoxo da existência e da formação das modalidades de aprendizagem, pois o desejo saudável com relação ao aprender é justamente aquele que se constitui num vínculo humano necessariamente fusional, mas com vistas a logo transformar-se num campo de diferenças e individuações.
Entretanto, a participação do corpo não se esgota nestas duas dimensões - a lógica e a simbólica.
Para que o sujeito possa acomodar o material assimilado, seu espaço psíquico deve estar o mais aberto possível ao mistério, pois este não impõe de fora para dentro e, sim, pressiona, permite que o interior busque decifrar a mensagem enigmática.
Podemos dizer, portanto, que associada à assimilação, a capacidade receptiva diz respeito às possibilidades de "segurar em tensão" os mistérios transmitidos pelo objeto, o que pressupõe o desenvolvimento da capacidade problematizadora e inventiva - possibilidade de colocar problemas - no campo da aprendizagem. Associada à acomodação, a capacidade receptiva diz respeito a um espírito capaz de tolerar a tensão entre o decifrável e o resto indecifrável inerente a todo conhecimento.
O aprender não se restringe a dominar as ferramentas do método científico, mas pressupõe viver e desenvolver as qualidades sensíveis inerentes a todo o conhecimento, mais próximas a fruição de uma obra de arte do que do distante escrutínio de seus componentes.
No ser humano a aprendizagem e o reflexo da assimilação e da conservação do conhecimento, do controle e da transformação do meio que foi acumulado pela experiência da humanidade através dos séculos.
A memoria é a base do raciocínio. Ao chamar a informação, o cérebro esta pronto para combina-la e organiza-la. A memoria armazena e preserva a informação. Só depois da consolidação dá-se a compreensão. Só reconhecemos estímulos depois de estarem retidos.

Define-se memória de trabalho como um sistema de capacidade limitada que permite o armazenamento temporário e gerenciamento de informações. Tem como principal função manter informações que estão sendo processadas por um curto período de tempo.

A capacidade de processar, armazenar e manipular informações de forma dinâmica na nossa consciência está intimamente relacionado à capacidade de resolução de problemas. Embora a memória de trabalho seja uma função extremamente importante para a criança desempenhar suas atividades escolares, evidências demonstram que elementos precursores e formas rudimentares dessa função já estão presentes na primeira infância (Reiznick et al., 2004).

À medida que o desenvolvimento progride, há uma melhora em todo funcionamento cognitivo da criança. Segundo Gathercole e Baddeley (1993), a principal mudança que ocorre durante o desenvolvimento da memória de trabalho é o aumento da eficácia operacional e da velocidade de processamento de informação, bem como uma maior utilização de estratégias nas resoluções de problemas. Ou seja, a criança passa a processar informações mais rapidamente e de forma automática, permitindo lidar com um maior número de informações ao mesmo tempo. Entretanto, a habilidade que tem sido mais investigada são os armazenadores temporários fonológico e visuo-espacial, muito provavelmente devido a simplicidade destes subcomponentes da memória de trabalho.

A memória de trabalho representa um modelo atual que funciona como uma espécie de interface entre o processamento e armazenamento temporário de estímulos do meio externo, mecanismos de atenção e memória de longo-prazo. É uma estrutura que apresenta vários componentes que se desenvolvem ao longo da infância e da adolescência. O funcionamento adequado da memória de trabalho permite com que o indivíduo possa resolver atividades cognitivas que se apresentam no dia-a-dia. Prejuízos no funcionamento desse sistema estão associados a uma extensa gama de quadros psicológicos. Em particular, destacam-se os problemas específicos de aprendizagem tais como na leitura, ortografia e fraco desempenho em cálculos matemáticos.

A cognição representa processos internos que os aprendizes usam para planejar, controlar e monitorizar a sua aprendizagem e pensamento. As estratégias cognitivas dizem respeito à aquisição de novas capacidades para resolução de problemas, permitindo o controle da atenção, memória, aprendizagem, pensamento e, por fim, a potencialização do desenvolvimento das habilidades intelectuais.
Piaget nos ensina que cognição e emoção são faces de uma mesma moeda
A exploração de possibilidades neuropsicológicas voltadas para a compreensão da interrelação dos aspectos da consciência, emoção e cognição são de fundamental importância para o entendimento do presente projeto.
Avaliando  os processos de aprendizagem, memoria e cognição observamos que a Metacognicao e a grande aglutinadora do processo de aprendizagem.
A Metacognicao e o conhecimento sobre o conhecimento (tomada de consciência dos processos e das competências necessárias para a realização da tarefa) e controle ou autorregulação (capacidade para avaliar a execução da tarefa e fazer correções quando necessário - controle da atividade cognitiva, da responsabilidade dos processos executivos centrais envolve todo o processo citado anteriormente de  aprendizagem que envolvem a atenção, a sustentação da atenção, a seleção da informação,  a evocação da memoria existente ou não e consolidação da memoria.
O conhecimento metacognitivo requer um envolvimento ativo do aprendiz na aprendizagem. Apesar de toda a polêmica existente à volta deste conceito, tem sido observada a sua contribuição para a potencialização da aprendizagem.
Deste modo, a eficácia da aprendizagem não é dependente apenas da idade, experiência e nível intelectual, mas também da aquisição de estratégias cognitivas e metacognitivas que possibilitem ao aluno planejar e monitorar o seu desempenho escolar; isto é, que permitem a tomada de consciência dos processos que utiliza para aprender e a tomada de decisões apropriadas sobre que estratégias utilizar em cada tarefa e, ainda, avaliar a sua eficácia, alterando-as quando não produzem os resultados desejados (Silva & Sá, 1993).
Concluo que a Metacognicao pode, então, ser vista como a capacidade chave de que depende a aprendizagem, certamente a mais importante: aprender a aprender, o que por vezes não tem sido contemplado pela escola.


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